Mas docentes presentes deram continuidade e rejeitaram proposta de criação de sindicato estadual 1t1q68
A mobilização de docentes do estado da Bahia para barrar uma tentativa de golpe convocada pela diretoria da Apub, tentando criar sindicato estadual para dividir movimento docente e desrespeitar a autonomia das seções sindicais de universidades e institutos federais na Bahia, foi intensificada na tarde desta quinta-feira (22).
Atendendo ao chamado do ANDES-SN, Fasubra, Sinasefe, Adufob SSind., Apur SSind., SindiUFSB SSind., SindUnivasf SSind. e o coletivo Democracia e Luta (Oposição pró-ANDES-SN na UFBA), centenas de professores e professoras compareceram ao local da Assembleia Geral antes do horário convocado – 14 horas -, mas enfrentaram demora e dificuldades no credenciamento, que só começou minutos antes do início oficial.
O processo, organizado pela diretoria da APUB, foi lento e próximo do fim, com a Assembleia instalada, a diretoria da entidade decidiu suspender essa Assembleia para prevenir uma derrota política, alegando que o credenciamento havia sido comprometido.
Segundo relatado por participantes, a justificativa surgiu quando ficou evidente que a gestão perderia a votação. Com o fracasso iminente da tentativa de golpe, a direção da Apub tentou cancelar a assembleia convocada.
Após anunciar a decisão, a diretoria da Apub retirou-se do auditório, acompanhada por uma minoria dos e das presentes. De forma truculenta e autoritária, o equipamento de som foi desligado e as luzes do auditório apagadas, deixando evidente a total indisposição ao diálogo. Um comportamento que, segundo relatos, trouxe à memória de muitos e muitas dos presentes, as táticas repressivas dos aparelhos do estado para impedir a organização da classe trabalhadora nos anos 1980.
Mas a postura autoritária não intimidou a maioria dos docentes presentes, que seguiu em assembleia, sem a estrutura necessária e “no gogó”, expressão que remete ao uso apenas da voz nas exposições e deliberações.
Nas falas e manifestações ficou evidente a indignação com o desrespeito por parte da direção da Apub.
O episódio acentuou a tensão entre a base docente e a diretoria da APUB. "Foi um golpe descarado para calar a voz da categoria", afirmou um professor presente.
Para Maíra Kubik Mano, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o comportamento antidemocrático da direção da Apub surpreendeu, ainda que a convocação da assembleia tenha se dado sem nenhum diálogo prévio com a base e com as seções sindicais das demais IFES da Bahia. “Fomos surpreendidos com uma decisão unilateral de encerrá-la [a AG] antes mesmo de seu início. Mobilizamos as bases. Os e as docentes vieram aqui para participar e rejeitar a proposta absurda de sindicato estadual e não tivemos a chance de apresentar nosso ponto de vista e nem de votar. A diretoria da Apub, mais uma vez, interditou o debate. Abandonou a mesa e, pior, apagou as luzes do auditório lotado, um risco para a segurança das pessoas presentes. Tais práticas antidemocráticas são características da Proifes, que há mais de uma década vem desrespeitando o conjunto da categoria docente federal”, aponta. E completa: “De qualquer modo, nossa atuação foi uma vitória, pois após o encerramento da assembleia pela diretoria da Apub, nós continuamos presentes ali, e prosseguimos, votando contra o sindicato estadual, proposta que foi aprovada por unanimidade entre os/as presentes”.
Após a contabilização dos votos remanescentes das e dos docentes que permaneceram na assembleia reforçando o caráter de imprescindibilidade da autonomia sindical, o resultado foi de 196 votos contrários às propostas da diretoria da Apub Sindicato, registrando-se ainda 3 abstenções.
O resultado é uma vitória na análise do presidente da Apur SSind, Davi Romão Teixeira. “Uma grande vitória dos professores e professoras federais da Bahia. A articulação de todas seções sindicais do ANDES-SN, do Sinasefe e do grupo de oposição da Apub foi crucial para garantir uma presença massiva de docentes contra a criação do sindicato estadual. Prevaleceu o respeito à autonomia e o direito de auto-organização da categoria”, avalia”. Ainda segundo David, “este fato serviu para estreitar as relações das representações sindicais do interior da Bahia. Agora é avançar nessa unidade para garantir o cumprimento dos acordos da greve de 2024 e a ampliação do orçamento das IFE”, indica.
Dentre as propostas rejeitadas pela assembleia docente, constava a rerratificação da criação da Apub Sindicato como Sindicato de Base Estadual, além da proposta do novo estatuto da entidade que regulamentaria a rerratificação.
Rafael Nardi, Diretor-Geral do SindUFSB e docente da Universidade Federal do Sudoeste da Bahia, também classificou como vitorioso o resultado obtido nesta quinta-feira. “A gente teve uma vitória muito importante, uma vitória da categoria docente federal, como um todo no estado da Bahia, unificada, com as suas representações legítimas. ANDES-SN e Sinasefe estiveram presentes em massa, dizendo que eles representam de fato a categoria do estado. E a vitória é muito importante por vários fatores”, conta. Ele avalia que o destaque do que aconteceu é “como a postura autoritária dessas entidades que se ligam ao Proifes se mostra”.
Rafael lembra ainda que a tensão foi uma característica da assembleia de hoje. “Foi uma assembleia muito tensionada porque os métodos de condução dessa diretoria davam a entender que essa assembleia era uma assembleia da Apub Sindicato, quando, na verdade, sendo uma assembleia de refundação de um sindicato, é uma assembleia de categoria. E então essa condução por parte deles, autoritária, sem margem para negociação de como deveria ser a assembleia, causou tensionamento desde o começo. Quando eles perceberam que perderiam no voto, eles suspenderam a assembleia e fizeram uma coisa muito feia”, relata. Para ele, “ter podido participar desse capítulo importante da construção do sindicalismo da categoria docente no estado da Bahia foi muito importante e serve também para a gente seguir se reafirmando, seguir na luta, seguir se fortalecendo, porque outras batalhas virão e a gente precisa tirar daqui o entendimento de que a gente consegue vencer essa pelegada de forma unificada e organizada. Se a gente vencer hoje, a gente pode vencer outras batalhas também”, afirma. E conclui: “Essas vitórias são muito importantes numa perspectiva de longo prazo para a organização da classe trabalhadora, dentro do entendimento classista como a gente quer fazer dentro do ANDES Sindicato Nacional”.
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