O Brasil registrou, em 2024, um marco histórico no monitoramento ambiental: pela primeira vez desde 2019, houve queda no desmatamento de quase todos os biomas do país, segundo dados do Relatório Anual do Desmatamento (RAD), lançado pela iniciativa MapBiomas Alerta, no dia 15 de maio, na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), em Brasília (DF). A exceção foi a Mata Atlântica, que se manteve estável após uma queda de quase 60% no ano anterior. 5m5153
A área total desmatada caiu 32,4% em relação a 2023, e o número de alertas validados recuou 26,9%. No total, foram 1,24 milhão de hectares de vegetação nativa suprimidos, em 60.983 alertas, um número ainda alarmante, mas que aponta para um possível ponto de inflexão após anos de avanço do desmatamento.
Apesar da redução, o Cerrado segue como o bioma mais pressionado, com 652 mil hectares desmatados – mais da metade (52,5%) do total nacional no ano ado. A região do Matopiba (que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentrou 75% do desmatamento do Cerrado e quase 42% de toda a vegetação nativa perdida no país. O Maranhão liderou o ranking estadual de desmatamento pelo segundo ano seguido.
Já a Amazônia, bioma que por décadas ocupou a liderança nas taxas de desmatamento, ficou em segundo lugar, com 377 mil hectares derrubados – o menor volume desde o início da série histórica do RAD. Ainda assim, o estado do Pará segue no topo do ranking acumulado desde 2019, com quase 2 milhões de hectares desmatados.
A Caatinga, por sua vez, teve destaque por abrigar o maior desmatamento individual já registrado pelo MapBiomas: 13.628 hectares em um único imóvel rural no Piauí. O Pantanal e o Pampa apresentaram as menores áreas desmatadas, mas os dados podem estar subestimados devido às limitações de detecção por satélite nesses biomas campestres.
Mesmo com a tendência de queda, os dados revelam a continuidade de uma dinâmica de desmatamento fortemente ligada à expansão da agropecuária, responsável por mais de 97% da supressão de vegetação nativa no Brasil entre 2019 e 2024. O garimpo ilegal segue devastando a Amazônia, e a instalação de empreendimentos de energia renovável tem forte impacto na Caatinga.
As Terras Indígenas e as Unidades de Conservação, embora mais protegidas, também não ficaram imunes. Em 2024, o desmatamento em Terras Indígenas caiu 24% em relação ao ano anterior, mas ainda somou 15.938 hectares. Nas Unidades de Conservação, a redução foi de 42,5%, com destaque para a APA Triunfo do Xingu (PA), a mais desmatada do país.
"A desintensificação de um processo destrutivo da vida promovida pelo capital segue sendo um processo destrutivo. Ainda que com uma marca progressiva importante, muito há que se avançar. A vinculação estreita do Governo Lula 3 com o complexo agro-minero-industrial e a carência de medidas enérgicas para combate ao ecocídio deve seguir como objeto de denúncia. As marcas reveladas pelo RAD ainda são inissíveis em um processo de transição ecológica urgente, que reclama um lugar de centralidade em nosso processo de lutas em defesa de um modo de existência humana harmônico com toda forma de vida", afirmou Gustavo Seferian, presidente do ANDES-SN.
O relatório reforça a urgência da atuação do Estado na regulação do uso do solo, na fiscalização ambiental e na valorização da ciência e da educação pública, especialmente nas universidades. A preservação dos biomas brasileiros, fundamentais para o equilíbrio climático global, depende do fortalecimento das instituições de pesquisa, da soberania sobre os territórios e do combate a políticas de destruição ambiental.